O FALSO PROFETA
Karl Barth *O falso profeta é o pastor que agrada todo mundo. Seu dever é dar testemunho de Deus, mas ele não o vê e nem o prefere, porque vê muitas outras coisas. Segue seus pensamentos humanos, conserva-se interiormente calmo e seguro, evita habilmente tudo quanto o incomoda. Não espera senão poucas coisas ou mesmo nada da parte de Deus.
Pode calar-se, mesmo quando vê homens atravancando seus caminhos com pensamentos, opiniões, cálculos e sonhos falsos, por quererem viver sem Deus.
Retira-se sempre quando devia avançar. Compraz-se em ser chamado pregador do Evangelho, condutor espiritual e servidor de Deus, mas só serve aos homens.
Sonha, às vezes, que fala em nome de Deus, mas não fala a não ser em nome da igreja, da opinião pública, das pessoas respeitáveis e da sua “pequena” pessoa.
Ele sabe que, desde agora e para sempre, os caminhos que não começam em Deus não são caminhos verdadeiros, mas não quer se incomodar nem incomodar os outros; por isso é que pensa e diz: “Continuemos prudentemente e sempre alegres em nosso caminho atual; as coisas se arranjarão”. Ele sabe que Deus quer tirar os homens da impiedade e que a luta espiritual deve ser travada. No entanto, prega a “paz”, a paz entre Deus e o mundo perdido que está em nós e fora de nós. Como se tal paz existisse!
Sabe que seu dever consiste em proclamar que Deus quis uma nova vontade, uma nova vida, porém deixa reinar o espírito do medo, do engano, de Mamom, da violência – a muralha construída pelo povo (Ez 13.10), o muro oscilante e manchado da religião para o contentamento de todo mundo. Eis aí o falso profeta!
*Karl Barth foi um dos maiores teólogos do século XX. Nasceu na cidade de Basileia, na Suíça, em 10 de Maio de 1886, e morreu em 10 de Dezembro de 1968. Este artigo, originalmente destinado a pastores, pode também ser aplicado aos cristãos em geral.