Spurgeon e os Charutos

Eu Voluntariamente os Amarei por Charles Haddon Spurgeon “ Eu voluntariamente os amarei ” (Oséias 14:4, RC) Esta frase é a...

quinta-feira, 14 de maio de 2020



CAPÍTULO 1

O Conflito Interior do Homem Moderno (pt3)





E Max compromete-se a seguir esse novo caminho com grande empenho.
"O realismo quase cínico de outros tempos na verdade ocultava a fonte de um 'idealismo' que agora
ele professa abertamente" — acrescenta Maeder.
Mas por que dizemos que se trata aqui de uma neurose, e não de uma simples crise normal
da adolescência?
Em primeiro lugar, o que caracteriza a neurose é a angústia. Esse jovem, que inicialmente se
mostrava tão seguro de si mesmo, deixou transparecer, na segunda sessão, por trás da fachada de
petulante, uma angústia profunda. Confessou que não estava contente consigo mesmo. A primeira
tarefa do médico foi ajudá-lo a tomar consciência dessa insatisfação secreta.
De igual modo, há no homem moderno uma oculta insatisfação consigo mesmo, uma
angústia da qual nem sempre tem consciência. Ele também se mostra ora inocente, ora acusador;
denuncia os culpados: sua esposa, o partido adversário, ou um Estado vizinho. Mas se
conversarmos com ele com maior intimidade, não tardaremos a ver que todas as suas críticas
escondem uma angústia interior. Lembro-me agora de uma outra expressão de Sartre, muito típica
de nossos tempos: "O homem é angústia" 3
Uma outra característica da neurose é a esterilidade. Os grandes sonhos daquele rapaz,
inclusive seu autêntico interesse pelo jazz, eram apenas fugas e compensações; não deram frutos e
não o livraram da sua angústia. Da mesma maneira podemos encontrar no mundo atual valores,
elites literárias, artísticas e espirituais que estão, porém, de algum modo, fora de foco, e que não
desempenham nenhum papel que contribua para o destino da sociedade.
O que há de realmente trágico nas neuroses é que o esforço que se faz para escapar dela é o
que acaba provocando-a. Podemos comprovar isso diariamente com nossos pacientes: é como se a
doença os levasse a cortar a corda que os mantém suspensos. Se depositam toda a sua confiança em
alguém, um impulso os leva a destruir, com a sua própria conduta, essa confiança. Se desejam abrir-
se com alguém e acabar com os mal-entendidos, agem de tal maneira que os desentendimentos, pelo
contrário, se multiplicam, o que lhes agrava a solidão. Se precisam ir bem numa prova, estudam
com tanto ardor e com tanta angústia que na hora da prova perdem completamente o sangue frio e
ficam totalmente aturdidos.
Percebo este paradoxo também no mundo moderno. Os esforços feitos para superar
situações negativas são a causa da própria perdição. Tudo o que é feito para evitar a guerra é o que a
precipita. Os esforços para que haja estabilidade na produção transtornam a economia e aumentam a
miséria. O trabalho que se faz para conhecer a fundo os segredos da natureza e captar suas forças
levam às armas nucleares, que ameaçam destruir tudo o que se construiu ao longo dos séculos. Os
esforços para livrar o homem da servidão social o fazem cair em lutas em que sofre mais do que na
situação anterior.
Tendo este ponto de vista, a crise do nazismo não teria sido um ato de neurose semelhante,
que o precipitou justamente para a sua própria ruína, com os mesmos meios que foram escolhidos
para dela tentar escapar? "O nacional-socialismo — escreve Röpke 4 — foi, em larga escala, a forma
alemã de uma doença mental internacional". E interessante comprovar, por outro lado, como a
aventura nazista evoca certos conflitos próprios da adolescência, tais como a fuga. "O fugitivo —
nos diz o Dr. Allendy 5 — arremete-se, sem pensar, à realização de um projeto que o fascina, não se
preocupando com o que depois possa acontecer; ele é refratário a qualquer argumentação em
contrário." Consideremos as palavras de Goebbels: "Se vencermos, todos quererão ser nossos
amigos." Tal como acontece com os neuróticos, o desejo de ser amado leva a fazer precisamente o
que é necessário para gerar o ódio.
Este comportamento oposto ao que se deseja é uma das características próprias da neurose; é
o que lhe confere uma aparência de maldição, de um aprisionamento fatal, de levar à
autodestruição, de ser uma força demoníaca. Foi justamente com o campo de concentração de
Buchenwald que o psicanalista Jung restaurou a velha noção bíblica de demônio. 6 André Malraux, 7
numa entrevista, também a evocou dessa mesma forma, assim como em relação à bomba atômica.
São conhecidas as palavras de Valéry: "Nós, os civilizados, sabemos agora que somos mortais". 8 E o
físico George acrescenta, um dia depois de Bikini (ilha em que foram feitas experiências com a
bomba atômica, em 1946): "A mortalidade das civilizações aumentou bruscamente". 1Esta impressão que se tem do mundo correndo para a sua total perdição evoca muito bem a
idéia de um impulso inconsciente. Gabriel Mareei 1 escreve acerca da obra de Sartre, dizendo que a
seguinte questão paira no ar: "Será que essa filosofia não se dirige para os abismos onde a nossa
desventurada espécie corre o risco de ser exterminada pelo poder da autodestruição?"
Definitivamente, o que caracteriza a neurose é que ela tem origem num conflito interior
inconsciente. Segundo Jung, "a neurose é uma doença porque não é consciente de seus problemas".
Isso ficou claro no caso relatado pelo Dr. Maeder. A base da cura residiu no esforço do médico em
ajudar o paciente a passar do plano de seus problemas aparentes para o verdadeiro problema em seu
interior.
Será que o homem moderno não sofre também de um conflito interior inconsciente,
ignorando totalmente qual é o seu verdadeiro problema? Será que, apesar da busca febril para
afastar o perigo das dificuldades políticas e econômicas — que vê como a única causa de seus
males, não obstante o aumento constante de poder, o desenvolvimento da ciência e o recrutamento
em massa de indivíduos para incrementar a produção —, a angústia do homem moderno não
diminui porque o seu verdadeiro problema está em outra parte?
Será que ele não expulsou da consciência o seu real problema, a verdadeira causa do seu
tormento, e por isso mesmo o projeta sobre tudo que toca?
Voltemos ao que estávamos dizendo sobre o Renascimento. De repente a humanidade
rejeitou aquilo pelo que vinha se orientando até então e decidiu não levar em conta os juízos de
valor, não confiar em nenhuma intuição metafísica, em nenhuma inspiração poética, em nenhuma
revelação transcendental. Resolveu construir sua civilização somente a partir das realidades
materiais e do conhecimento objetivo. Aparentemente ela se preocupa bem pouco, na atualidade,
com problemas de ordem filosófica, artística, moral ou religiosa. Deixou que os especialistas nessas
áreas batessem em retirada, como se esses problemas tivessem mais importância em relação ao seu
destino, que estar agora sendo regido pela economia, pela ciência, pela técnica e pela política.
Acrescente-se a isso o fato de não ter podido eliminar os problemas de ordem qualitativa e afetiva,
mas apenas os reprimiu em seu inconsciente. Jung mostrou a extrema importância do inconsciente
coletivo da humanidade, onde dorme tudo aquilo que tinha animado o seu espírito no passado: o
mundo do símbolo, da poesia, da verdade e da justiça. Assim como Freud revelou o inconsciente
animal, dos instintos, Jung estudou o inconsciente espiritual, que o Dr. Stocker 10 denomina
inconsciente superior, e que permanece intacto e ativo no homem moderno, sem que ele perceba.
"As religiões... foram escolas de vidas" — escreve Rougemont. 11 "Não resta a menor dúvida de que
as grandes religiões universais tiveram sob sua responsabilidade a educação da humanidade" —
afirma Maeder. 2
Chega-se à neurose quando se reprime algo que não foi eliminado. O homem moderno
acredita ter suprimido deste mundo os valores, a poesia, a consciência moral, mas não fez mais do
que uma repressão, e por isso sofre. E tal como o jovem paciente do Dr. Maeder que — por
compreender que a moral, que para ele o pai encarnava, e contra a qual ele lutava, na verdade era
por ele levada bem no fundo do seu coração — vê que lutar contra ela significa lutar contra si
mesmo.
E isto que é a neurose: uma luta interior.
"Cada época tem a sua doença típica" — diz o Dr. Gander. 12 A doença típica do nosso tempo
é a neurose, que para muitos médicos aflige mais da metade da sua clientela. E não é por acaso. A
nossa civilização materialista e amoral já não responde às profundas necessidades da alma.
As experiências de Pavlov com animais provaram que a neurose está relacionada com um estado de
indecisão da alma ou, como se diz em psicologia, com uma ambivalência. A a\ma moderna titubeia.
A evolução da sociedade a partir do Renascimento destruiu os tradicionais marcos de referência, e o
homem contemporâneo está perdido, cambaleando entre as doutrinas mais contraditórias. O mundo
lhe dá a sugestão de que o sentimento, a fé e a verdade filosófica não têm importância. Mas este
homem conserva no fundo do seu coração a correta intuição de que estas são as questões realmente
importantes. O mundo nada lhe diz sobre a sede de amor que ele sente, nem sobre a sua solidão
moral, nem sobre a sua angústia diante da morte, nem sobre o mistério do mal, nem sobre o mistério
de Deus. Estas questões são totalmente reprimidas pelo mundo, mas elas lhe causam uma obsessão.


Paul Tournier, Mitos e Neuroses

quarta-feira, 13 de maio de 2020


CAPÍTULO 1

O Conflito Interior do Homem Moderno (pt2)




Reivindica o direito de pensar por si mesmo e não segundo um sistema de pensamento tradicional;
reclama o direito de conduzir-se a partir do seu próprio entendimento e não sob alguma autoridade.
Também julga os pais e vê que eles não aplicam em sua vida a moral que lhe ensinam. Discute com
eles acerca de todas as coisas e vence a discussão quando lhe confessam não terem respostas para as
insaciáveis perguntas que lhes faz.
Não podemos comparar essa crise da adolescência com a que foi causada pelo Renascimento?
O que caracteriza o adolescente é que essa afirmação de si mesmo, entretanto, é negativa. Ele
acredita estar livre e que pode provar a sua liberdade infringindo a tudo aquilo a que documente se
subordinara ate então. Contudo a sua liberdade tem mais palavras e discussões do que atividades
criativas. Dizer não a todas as coisas que antes tinha aceitado, não é isso que significa ser livre.
Do mesmo modo, depois do Renascimento a humanidade assumiu a posição oposta à
cosmovisão que a Antigüidade e a Idade Média lhe haviam ensinado. Substituiu a visão espiritual,
religiosa e poética do mundo por uma visão científica, realista, econômica. Tal como o adolescente,
a humanidade lançou-se, apaixonada e tumultuosamente, ao estudo de doutrinas extremistas e
contraditórias. Foi uma violenta reação contra a pretensão que tivera, no fim da Idade Média, de
colocar toda a cultura e a vida num sistema rígido e lógico, proveniente da fé.
Assim como o jovem rebelde acusa seus pais, o mundo moderno acusa a Igreja de ter sido o grande
obstáculo que o impediu de chegar a ter uma identidade própria, de pensar livremente. São palavras
de Nietzsche: "A idéia de Deus foi, até o presente momento, o maior obstáculo contra a existência."
Uma outra característica do nosso jovem adolescente é a injúria. Ele denigre os valores em que foi
educado. Zomba dos pais. Vê neles hipocrisia no seu conformismo moral e social. Neste ponto nos
lembramos de Sartre, esse homem tão característico da época moderna, que vê uma farsa em tudo.
"Consideremos este garçom — escreve ele — ... que brinca de ser garçom." E o que ele denigre são
fundamentalmente os valores tradicionais. Para ele, "ser pai de família é ser, sempre, e de modo
inevitável, alguém que brinca de ser pai de família..." — como escreve também Gabriel Mareei,'
enfatizando ainda "o ressentimento que anima Sartre contra tudo a que se possa chamar de 'ordem
social' ou, simplesmente, de 'ordem'."
A visão do mundo que Sartre tem é, assim, exatamente igual à do nosso jovem rebelde, que
denuncia o que há de encenação nas personagens admiradas em sua infância, das quais tem agora
um amargo ressentimento.
Assim, podemos comparar os séculos em que o homem viveu, a partir do Renascimento, com os
anos críticos da adolescência.
Essa crise é necessária e normal. Antes de chegar à maturidade, o jovem tem de passar por esse
tempo de ebulição em que questiona tudo. Chegará um dia em que recobrará os tesouros da infância
e voltará às crenças dentro das quais foi educado e aos princípios que lhe foram transmitidos,
porque eram verdadeiros. A vida fará com que os redescubra. Mas então lhes dará um tom pessoal,
assumindo-os como se tossem convicções próprias, fundadas em suas experiências mais íntimas. E
o que se chama, na psicologia, de integração.
Entretanto, a integração às vezes tarda a aparecer, e a crise da adolescência adquire
proporções de uma doença. E o que os psiquiatras chamam de "neurose de oposição".
Creio que foi isso o que aconteceu no desenvolvimento da história humana. E o diagnóstico que
proponho acerca do nosso mundo moderno. Assim, antes de prosseguirmos com o nosso exame,
vou esclarecer melhor o que é neurose de oposição.
O doutor A. Maeder, de Zurique, descreve um caso, com a exatidão e os detalhes que lhe são
peculiares, em seu bom livro Vers Ia Guérison de l’Âme (Para a Cura da Alma). 2 Vou resumi-lo
brevemente, mas recomendo ao leitor que leia a narração detalhada do autor.
Um certo professor envia ao doutor Maeder um aluno de 17 anos, a cujos graves fracassos escolares
somava-se uma atitude de rebeldia. Esse adolescente, a quem Maeder chama de Max, só pensava
em jazz; chegou a roubar dinheiro de seu pai para cobrir os gastos com uma orquestra com que se
envolvera, em vez de trabalhar. Max mostra-se reservado diante do médico, respondendo
laconicamente a suas perguntas. No entanto, deixa entrever que há um grave conflito entre ele e o
pai, o que faz com que constantemente o enfrente. Isso explica a sua frieza, já que perante qualquer
autoridade — e o médico é uma autoridade, assim como são os professores — o que ele faz é
demonstrar uma atitude de rebeldia, tal como a que vinha tendo para com o seu pai.
Diante da boa disposição do médico, porém, o jovem se desarma um pouco e explica as críticas que
faz de seu pai: este o tinha decepcionado muito; não tomou a defesa de sua mãe quando seus avós
paternos a acusaram injustamente. Essa fraqueza havia destruído a autoridade do pai sobre o filho.
No dia seguinte o médico vê que Max está um pouco mais aberto. Não está mais arrogante.
Confessa com sinceridade que se sente infeliz, que seus fracassos pesam-lhe muito e que se acha
impotente para mudar de atitude; e lamenta as decepções que causou ao pai. Mas quando o médico
sugere que diga isso a ele, Max rebela-se:
— Você não vai exigir que eu faça o contrário do que tenho feito até agora, não é?
E fica pasmado quando o doutor Maeder replica:
— Você me disse ontem que era um revolucionário. Então, fazer o contrário do que você fazia
antes, isso não é agir como um revolucionário?
— Pode ser... — foi sua breve resposta.
Quando questionado sobre sua fé, o jovem responde que não acredita mais em Deus. Diz ter
adotado a esse respeito uma atitude de independência.
O médico chama depois o pai do rapaz, para preparar um encontro entre os dois. O pai
mostra-se também bastante reservado. Forçando a situação, Maeder pergunta-lhe se ele não
reconhece ter também alguma responsabilidade diante do problema familiar. Após o choque inicial,
o pai acalma-se. Seus olhos ficam úmidos; o gelo se quebra. Reconhece os seus erros e se diz
disposto a dar uma explicação completa e sincera ao filho.
A conversa que Max tem com seu pai leva umas quatro ou cinco horas. O pai segue os
conselhos do médico e trata o filho com benevolência. Assegura-lhe que quer ajudá-lo e que o seu
desejo é deixar que escolha livremente entre os estudos e a música. Max fica consternado e volta a
procurar o médico: agora que se sente livre percebe que suas dificuldades têm raízes em si mesmo;
ele tem, na verdade, "medo de si mesmo". Espontaneamente confessa suas mentiras, o sentimento
de culpa por masturbar-se, os pensamentos "sujos"... Acrescenta que duvida de si mesmo, já que,
apesar de todos os seus esforços, nunca chegou a nada.
O médico explica-lhe então o importante papel que o conflito com seu pai desempenhou em
seus fracassos: atrelada à atitude de rebelião contra o pai estava, de um lado, a rebelião escolar, o
conflito com os professores, do qual, em última instância, ele mesmo fora a vítima. E, por outro
lado, havia também a rebelião contra Deus, a autoridade suprema, mas que é, ao mesmo tempo, a
fonte que pode lhe dar toda a vitória sobre si mesmo. "A situação central do homem está
representada na parábola do retorno do filho pródigo".
Assim a entrevista passa, sem se perceber, do campo da psicoterapia para o campo da cura
da alma. E o médico compartilha suas próprias experiências religiosas, mostrando ao rapaz como,
na presença de Deus, submetendo-se à vontade dele, é possível aceitar-se tal como se é, aceitar o
combate da vida com maturidade, aceitar a sexualidade e dominá-la.


Paul Tournier, Mitos e Neuroses

terça-feira, 12 de maio de 2020

CAPÍTULO 1


O Conflito Interior do Homem Moderno


Não é preciso ser muito perspicaz para perceber que o mundo moderno não goza de boa saúde. Seus
males são inumeráveis; ele está tendo convulsões. E evidente que precisa restabelecer-se.
O que o aflige?
Este é o problema que se apresenta todos os dias para um médico diante de seu paciente. Enumerar
os sintomas, discernir os mecanismos que desencadeiam tais sintomas e examinar de perto as lesões
dos órgãos mais afetados não significa, entretanto, fazer um diagnóstico.
Muitos homens lúcidos procuram hoje em dia formular um diagnostico desse modo, e a maioria o
faz com prudência, sem dissimular a dificuldade de que esses exames se revestem. Além disso, tais
diagnósticos muitas vezes são contraditórios, o que faz aumentar a nossa perplexidade. Os esforços
despendidos, no entanto, não são em vão: eles procuram, e nada encontra quem não procura. É neste
sentido que me uno a eles, não como alguém que creia já ter obtido o diagnóstico correto. Como
eles, eu também quero obtê-lo.
Quando nos deparamos com um "caso difícil", constituímos uma junta médica. Em conjunto
examinamos o paciente para fazer um diagnóstico preciso. Cada um dos médicos formula a sua
hipótese particular. Depois voltamos a examinar o paciente e verificamos se a hipótese corresponde
aos sintomas observados.
É com este espírito que escrevo este livro; vou submeter ao julgamento do leitor as hipóteses que
me ocorrerem quando estiver procurando compreender a doença do mundo moderno.
Atualmente cada uma de nossas disciplinas passa por uma crise: a ciência, a medicina, o direito. Há
também a crise política e econômica, a crise filosófica e a religiosa. Os especialistas poderiam
manifestar-se e descrever, muito melhor do que eu, cada uma dessas crises, e muitas outras mais.
Não sou historiador, nem teólogo, nem sociólogo. Inclusive em minha própria área, sou o menos
especializado dos médicos. Não sou mais do que um observador dos seres humanos, dos homens
que são infinitamente diferentes e ao mesmo tempo infinitamente iguais entre si, que dia após dia
abrem o seu coração para mim. Para eles escrevo, porque por trás de todas essas crises particulares
está a crise do homem moderno. Temos que especificá-la, e isso será uma tarefa difícil de se fazer.
Procurei encontrar o início do fio da meada, e creio tê-lo encontrado em Pascal, quando escreve: "A
sucessão de todos os homens, ao longo dos séculos, deve ser encarada como se fosse um único
homem, que sempre subsiste e que aprende continuamente." Consideraremos assim a história da
humanidade como sendo a história da vida de um homem.
Quando um paciente nos procura, a primeira coisa que fazemos é interrogá-lo sobre a sua infância e
adolescência. Procuramos compreender como ele se desenvolveu.
A infância da humanidade é a Antigüidade. O nosso paciente foi uma criança-prodígio. A
Antigüidade tem todas as características de uma criança-prodígio, que parece descobrir,
espontaneamente e sem qualquer esforço, os tesouros mais puros, mais verdadeiros e maiores. Isto
ocorre especialmente no campo da arte, da poesia, dos sonhos, como se todas as obras-primas
tenham brotado da sua cândida alma.
Entre os doentes de quem tratei nos últimos anos, conheci muitos que haviam sido crianças-
prodígios mas que, quando adultos, pareciam estar passando por uma crise bem profunda, na
medida que suas dificuldades atuais divergiam dos êxitos da infância. Lembro-me de um deles, em
particular, que na sua juventude havia tido muitas vitórias que foram fáceis, em comparação com a
mediocridade de tudo o que conseguia empreender então em sua vida adulta. Tal era o seu
desespero que se refugiava na mais completa inação, e tinha uma obsessão pela idéia de suicídio.
A infância, a Antigüidade, é a idade da poesia.
Depois a humanidade passou pela Idade Média, que podemos comparar com a idade escolar. A
criança de 8 a 15 anos aprende criteriosamente - tudo o que lhe ensinam. Acredita em tudo o que lhe
dizem que deve crer. Aceita sem discussão a autoridade dos pais e dos professores. É a idade da
religião aprendida. Do mesmo modo, na Idade Média os homens cresceram no sistema de
pensamento que o seu mestre, a Igreja, lhes impôs. Tudo aceitaram sem a menor crítica, sem sequer
se dar conta — tal como uma criança — de que o mestre tinha seus defeitos. E a idade em que se
crê que aqueles que instruem sabem tudo e são perfeitos. A criança considera-os como sendo
deuses. Aceita a fé e a moral que lhe ensinam e, ainda quando desobedece, não questiona a
autoridade que eles têm.
Depois vem o período da adolescência. Grande quantidade de conhecimentos novos, a embriaguez
do saber e a aspiração à experiência pessoal apresentam ao adolescente uma infinidade de
problemas que seus pais parecem ter-lhe ocultado. Ele se levanta então contra os pais; rebela-se.


Paul Tournier, Mitos e Neuroses


Christ Has No Doctrine




A true believer is infinitely interested in what is real. For faith this is decisive, and this interestedness does not just involve a little curiosity but an absolute dependence on the object of faith.
The object of faith, understood Christianly, is not a doctrine, for then the relation is merely intellectual. Neither is the object of faith a teacher who has a doctrine, for when a teacher has a doctrine, then the doctrine is more important than the teacher. The object of faith is the actuality and authority of the teacher; that the teacher actually is. Therefore faith’s answer is absolutely either yes or no. Faith’s posture is not in relation to a teaching, whether it is true or not, but is the answer to the question about a fact: Do you accept as fact that he, the Teacher, actually exists? Please note that the answer to this is a matter of infinite com cern. Of course, if the object of faith is only a human being, then the whole thing is a sham. But this is not the case for Christians. The object of Christian faith is God’s historical existence, that is, that God at a certain point in time existed as an individual human being. Christianity, therefore, is not a doctrine about the unity of the divine and the human, not to mention the rest of the logical paraphrases of typical religious thought.
Christianity is not a doctrine but a fact: God came into existence through a particular human being at a particular point in history.
Christianity is not to be confused with objective or scientific truth. When Christ came into the world it was difficult to become a Christian, and for this reason one did not become preoccpied with trying to understand it. Now we have almost reachedthe parody that to become a Christian is nothing at all, but it is a difficult and very involved task to understand it. Everything is reversed. Christianity is transformed into a kind of worldview, a way of thinking about life, and the task of faith consists in un­derstanding and articulating it. But faith essentially relates itself to existence, and becoming a Christian is what is important. Believing in Christ and wanting to “understand” his way by articulating it and elaborating on it is actually a cowardly evasion that wants to shirk the task. To become a Christian is the ultimate, to want to “understand” Christianity, as if it were some doctrine, is open to suspicion.
That one can know what Christianity is without being a Christian is one thing. But whether one can know what it is to be a Christian without being one is something else entirely. And this is the problem of faith. One can find no greater dubiousness than when, by the help of “Christianity,” it is possible to find Christians who have not yet become Christians.
Faith, therefore, and the object of faith is not a lesson for slow learners in the sphere of knowledge, an asylum for the ignorant. Faith exists in a sphere of its own. The immediate identifying mark of every misunderstanding of Christianity is that
faith is changed into a belief and drawn into the range of intellectuality – a matter of understanding, of knowledge. Infinite interestedness in the actuality and authority of the Teacher, absolute commitment, becoming Christian – that is the sole passion and object of faith.


p r ovo c at i o n s
Spiritual Writings of Kierkegaard
(p65-66)

sábado, 28 de março de 2020

SE...



“Se algum dia eu soubesse que nunca mais veria você eu lhe daria um abraço mais forte. 
Se eu soubesse que seria a última vez a ver você eu lhe daria um beijo e o chamaria para dar mais um. 
Se eu soubesse que seria a última vez a ouvir a sua voz eu gravaria cada movimento e cada palavra, para revê-los depois todos os dias. 
Se eu soubesse que seria a última vez que eu poderia parar mais um ou dois minutos para dizer-lhe: “Gosto de você..!!!!” …eu diria, ao invés de deixar que você presumisse. 
Se eu soubesse que hoje seria o último dia a compartilhar com você… o sentiria muito mais intensamente em vez de deixá-lo simplesmente passar. 
Sempre acreditamos que haverá o amanhã para corrigir um descuido… para ter uma segunda chance de acertar. Será que haverá uma chance para dizer: “posso fazer alguma coisa por você”? 
O amanhã não é garantido para ninguém, seja para jovens, ou mais velhos, e hoje pode ser a última chance de abraçarmos aqueles que amamos. Então, se estamos esperando pelo amanhã, por que não agirmos hoje? 
Assim, se o amanhã nunca chegar, não teremos arrependimentos de não termos aproveitado um momento para um sorriso, para um abraço, para um beijo, uma gentileza, porque estávamos muito ocupados para dar a alguém o que poderia ser o seu último desejo. Abracemos hoje aqueles que amamos, sussurremos em seus ouvidos, dizendo-lhes o quanto nos são caros e que sempre os amamos. 
Encontremos tempo para dizer:
– Desculpe-me. Perdoe-me.- Obrigado. Eu perdoo você… 
Sempre há tempo para amarmos e se não houver amanhã, também não haverá remorsos de hoje para carregarmos.” (Mario Quintana)

"Dificuldades preparam pessoas comuns para destinos extraordinários."


C. S. Lewis

Minhas irmãs e irmãos, durante este tempo de quarentena temos que relembrar a recomendação bíblica: "Quero trazer à memória o que me pode dar esperança.
As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã.
Grande é a tua fidelidade." (Lamentações 3:21-23)

Tendo em nossas mentes as palavras de Jesus, não vamos deixar a angústia e ansiedade nos dominar, deixemos o Evangelho de Jesus firmar a nossa vida durante a tempestade.
Devemos falar do Evangelho e salmodiar para as nossas angústias: "Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei pela salvação que há na sua presença" (Sl 42:5)

É fácil? Com certeza não é, mas pergunte ao maratonista se ele começou os treinos correndo os 42,195 km ou ao que levanta 300 quilos se ele começou com este peso, tanto o maratonista quanto quem levanta o peso tem que começar aos poucos, com disciplina, se forçando a continuar, vamos agir do mesmo modo, vamos praticando e exercitando, com certeza vamos conseguir combater o bom combate.

Pr. Morestino Elias

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

A nice bandit is a dead bandit!


really?



 To declare the full lungs, good bandit bandit is killed, the Christian must forget what Christ taught us about the forgiveness of enemies, of mercy and grace, of justice of the kingdom of God and its application. The question I would ask is: good bad guy is dead bad guy?

imagine the following scenario: A man lying on the edge of a road known for constant theft to travelers in this way, used every mistake mechanisms to rob the traveler, the bandits who worked in lier region traps in order to make there a chance to steal the victim, sometimes did not work and the victim could escape or an unexpected reaction subduing the villain, this road passes a man, no man, a religious one and comes across an injured person, almost dead, and passes quickly and think, "good bandit is killed bandit", soon after passing a person responsible for the organization of time, he knows as his "boss" acted and how good a student who is, it goes a little farther and think :"A nice bandit is a dead bandit"

imagine another scene: ...





M. Elias Neto