O Que Deus Pode Ser Para Mim
Nada,
se para mim ele não existe. Sou ateu, teórico ou prático. Teórico,
porque se digo que Deus não existe é porque tenho as minhas razões
intelectuais; ou prático porque, se não nego a existência de Deus,
vivo como se ele não existisse.
Deus
pode ser para mim uma abstração. Metafísica pura. Um princípio
independente do mudo. Causa e fim de todas as coisas. Motor imóvel,
que é movimento e potência, como queria Aristóteles. A grande
unidade, ponto de partida para todos os números, como pensava
Galileu. O Bem supremo, como pretendia Platão. A mônada1 central,
como preferia dizer Leibnitz. Ou Ser absoluto, perfeito, causa
primeira e razão última de todas as coisas existentes ou possíveis,
como ensinam os compêndios tradicionais de filosofia.
Qualquer
desses conceitos, certo ou errado, não diz nada. Ou, se diz, diz
muito pouco.
Pode
ser a escultura que impressiona pelas linhas e pela perfeição: uma
estátua, mesmo a que só falta falar, como Moisés de Miguel Ângelo,
é sempre uma estátua.
Falta-lhe
o calor da vida. A beleza inimitável da vida. Se Deus para mim é um
mero conceito filosófico ou teológico, tenho o coração vazio
dele. Se Deus não passa para mim de uma idéia encadernada, de
papel, que conservo numa prateleira de minha biblioteca, essa é uma
idéia oca. Sem consistência. De que me serve um Deus mumificado,
empalhado?
Mas
que é que Deus é então para mim?
Alguém.
Deus tem que ser alguém. Não algo, mas alguém. Uma pessoa.
Espírito. Conhecemo-lo pelos seus atributos, mas estes não fazem
parte da natureza de Deus, uma vez que só se manifestam nas obras da
criação e da Providência. Deus existe independente deles. É
auto-existente.
Mas
bastará que ele seja alguém?
E
se for alguém ausente? Que tenha dado corda à criação - as leis
seriam a corda - e se recolhido, como fazemos nós que damos corda ao
nosso relógio e vamos dormir em seguida, deixando-o trabalhar
sozinho?
Assim
pensam os deístas,
que negam toda revelação e acreditam apenas na religião natural.
Religião é o exercício da moralidade como obediência a Deus,
dizem eles.
Ao
contrário. Deus tem que ser alguém presente. Alguém interveniente.
É o teísmo.
Deus como Providência.
Deus
em mim. Na minha vida. No mundo das minhas afeições e a mais cara
de todas elas: "Amarás o Senhor teu
Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu
entendimento" (Mateus 22:37).
Deus
como Pai, como Salvador, como Consolador, como Amigo. Amigo de todas
as horas. Amigo mais chegado do que um irmão (Provérbios
18:24).
Deus
vivendo comigo, dentro da mesma casa, no meu coração.
"Respondeu
Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra: e meu Pai o
amará e viremos para ele e faremos nele morada" (João 14:23).
Eis
o que Deus é para mim. Ele é para mim o que foi para os patriarcas,
para os profetas, para os apóstolos. E o que é para todos os
cristãos autênticos.
Pastor Rubens Lopes - O Trovão Batista
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